Ex-reitores

Algumas pessoas acompanharam de perto a trajetória da UPF. Em seus depoimentos, os ex-reitores da instituição destacam algumas impressões sobre o tempo em que estiveram à frente da representação da Universidade.

Inicialmente nomeado como interventor da crise que se abatia na Sociedade Pró-Universidade em 1964, Murilo Coutinho Annes não sabia que o seu trabalho em prol do ensino superior de Passo Fundo estava apenas no início. Já envolvido na causa da criação de uma nova entidade mantenedora para os cursos superiores, coube a ele a tarefa de ser o primeiro reitor da recém-criada Universidade de Passo Fundo, e, dessa forma, estruturar a instituição. Em depoimento fornecido em 1999, Annes conta que em uma viagem realizada em 1967, onde ele e o então vice-reitor acadêmico, padre Elydo Alcides Guareschi, visitaram 15 universidades norte-americanas, de onde surgiu a inspiração para a estruturação do campus. "De lá, trouxemos a ideia da Cidade Universitária: espaço amplo, ajardinado, com construções simples, térreas e distribuídas de maneira esparsa. Na volta, buscamos os recursos necessários para transferir para o campus as faculdades de Direito, Economia, Belas Artes e o Restaurante Universitário. Para angariar recursos, utilizamos a venda parcelada de créditos futuros. Por exemplo, comprava-se hoje os créditos para toda a frequência no curso de Direito. Com, isso, essas quatro unidades foram construídas [...].", explica o ex-reitor.

(Depoimento do primeiro reitor da universidade, Murilo Coutinho Annes (in memoriam) em novembro de 1999. Disponível em: O processo de criação da Universidade de Passo Fundo/ Elydo Alcides Guareschi – Passo Fundo: UPF,2001, 8v.)

Após os primeiros anos de fundação, com a Universidade já organizada e em pleno funcionamento, começaram a surgir necessidades de expansão das estruturas físicas da Cidade Universitária e também de investimento nas áreas de formação docente, pesquisa e extensão. A responsabilidade de afirmação e consolidação da UPF coube a Bruno Edmundo Markus, reitor entre 1974 e 1982. Em depoimento fornecido no ano de 1999, Markus destaca que os trabalhos da sua gestão correspondem ao período de continuação da construção da infraestrutura, de prédios e demais instalações das unidades acadêmicas no campus universitário. O ex-reitor ainda ressalta que " o desenvolvimento físico da universidade não era o único. A meta prioritária era a formação e a qualificação do corpo docente." Markus também enfatiza alguns números da expansão da universidade. "Foram reconhecidos 25 dos 34 cursos e 47 habilitações; o quadro de funcionários passou de 85 para 310 e o corpo docente, que em 1974 contava com 31 professores com nível de pós graduação, passou a ter 201 professores com pós-graduação, sendo 174 com especialização, 21 com mestrado e 6 com doutorado", lembra.

(Depoimento do segundo ex-reitor da universidade, Bruno Edmundo Markus (in memoriam) em dezembro de 1999. Disponível em: O processo de criação da Universidade de Passo Fundo/ Elydo Alcides Guareschi – Passo Fundo: UPF,2001, 8v.)

Integrante do grupo responsável pela criação da universidade, o professor Elydo Alcides Guareschi foi vice-reitor Acadêmico e reitor entre 1982 e 1998. Passados 50 anos dos primórdios do ensino superior em Passo Fundo, ele acredita que a UPF rendeu frutos positivos."Considerando-se as condições socioeconômicas e políticas da região, as dificuldades enfrentadas principalmente nos anos iniciais, bem como as contribuições oferecidas ao desenvolvimento da região... podemos afirmar: 'sim, a UPF deu certo'", opina. Ele pondera que apesar de ser uma experiência bem sucedida, a UPF ainda tem muitos desafios pela frente. "Nasceu do sonho e da vontade de visionários. Foi pensada, desejada, planejada. Construiu raízes na região. Por tudo isso ela é a Universidade 'necessária'. Agora, de novo, é tempo de semear e construir. No horizonte já se delineiam novas necessidades e expectativas", diz. Entre elas, Guareschi destaca o crescimento da pós-graduação e da pesquisa; a ênfase na qualidade acadêmica; a utilização do ensino a distância, ou semipresencial; a internacionalização da Universidade; e a qualificação dos professores, como preocupação permanente.

Ao longo de 11 anos como vice-reitor Administrativo e quatro como reitor, de 1998 a 2002, o professor Ilmo Santos participou de grandes mudanças na universidade. "Um dos avanços mais significativos foi o do processo democrático dentro da instituição. Primeiro eram poucos professores que participavam do processo eleitoral. Terminamos com isso e conseguimos que todos os professores tivessem direito de votar, bem como os alunos e os funcionários", ressalta. O incentivo à qualificação docente foi outra mudança fundamental para melhorar a qualidade do ensino, além de investimentos em laboratórios e compra de equipamentos. Santos lembra ainda de momentos marcantes vivenciados na trajetória acadêmica, como as formaturas. "Víamos os pais de alunos, principalmente os que vinham do interior, que vibravam pela felicidade de ter um filho com formação. Eles apostavam tudo e faziam sacrifício para manter o aluno fazendo a faculdade", lembra. Sobre o futuro, acredita que a instituição deve se manter no compromisso com um ensino de qualidade, com contínuo incentivo à qualificação docente.

O professor Rui Getúlio Soares foi reitor durante dois mandatos entre os anos de 2002 e 2010, mas presenciou o início da instituição e revela o orgulho de ter participado desta história. "Lembro o dia em que houve a passeata histórica na Avenida Brasil em comemoração à criação da Universidade. Eu estava na frente do campus III. Foi um dia extraordinário. Naquela época era muito difícil a criação de uma universidade ou faculdade", lembra, fazendo referência ao momento de ditadura militar pelo qual o Brasil passava. "Quem conheceu Passo Fundo na época sabe o que representou a criação da UPF", pontua. Para Soares, a instituição precisa manter-se moderna, acompanhando a evolução tecnológica e mesmo da sociedade. "A modernização da instituição passa por uma política que contemple a qualificação e titulação docente, o que permita o surgimento de novos projetos na área tecnológica e científica, bem como a qualificação da extensão, sem esquecer as questões administrativas. Precisa buscar também alternativas na oferta de cursos. Hoje o mercado está saturado em algumas áreas e há urgência de se pensar em alternativas que contemplem a atualização do mercado de trabalho", finaliza.